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MINEIRO RESGATADO DÁ TESTEMUNHO PDF Imprimir e-mail
 
 Um bilião de pessoas assistiram na televisão ao resgate miraculoso de 33 mineiros presos numa mina, no Chile. Mas muitos não conhecem a história de um deles, que ajudou os seus companheiros a passar das trevas para a luz. Mundo Cristão, foi à cidade de Talca, ao sul de Santiago, e falou em exclusividade com ele.

     Mundo Cristão: Os seus colegas chamam-no de "Don José" e a imprensa apelidou-o de "Pastor". Como prefere ser chamado?

     José Henríquez: "Don José. Eu não sou um pastor, nem sou um guia espiritual, como me chamam, portanto Don José ajusta-se melhor. Eles conheceram-me assim e é assim que me chamam".

     Mundo Cristão: Quem é José Henríquez? Como se descreveria?

     José Henríquez: "Um homem simples, humilde e testemunha do Evangelho, com responsabilidade no Evangelho. Dessa forma eu descrever-me-ia como um homem agradecido de coração ao Senhor. Cheio de gozo, alegria, contentamento, porque o Seu Espírito habita em nós. O Espírito Santo faz-nos sentir diferentes e Ele habita em todos os filhos de Deus. É isso que faz a diferença no crer num Deus vivo. Descrever-me-ia assim."

     Mundo Cristão: Considera-se um herói pelo que fez na mina?

     José Henríquez:  "Não, eu acho que o herói chama-se Jesus Cristo. Ele é o único herói que pode ser mencionado. Independente do que o homem tenha feito dentro ou fora da mina, é Ele quem merece a honra e a glória.

     Deus é o Rei dos reis, Senhor dos senhores. Esse é o norte que eu conheço e creio que é o norte de todo o Cristão. Acho que essa é a atitude que todo cristão deve ter para com o Senhor Jesus Cristo. Em todos os lugares, independentemente de onde estivermos, essa é a atitude que devemos ter.”

     Mundo Cristão: Há quanto tempo é Cristão? Como e quando deu a sua vida ao Senhor?

     José Henríquez: "Há trinta e tal anos atrás, apesar de ter tido na família um avô pastor, eu sempre escutei elogios, conheci irmãos Cristãos, porém era apenas uma pessoa "inserida" numa família cristã. Mas Deus trata individualmente com cada um.

     “Pude chegar ao conhecimento do Senhor através do meu próprio avô. Eu costumava acompanhar a minha mãe à igreja apenas para que não lhe acontecesse nada. Um dia, ao sair da igreja, o meu avô disse-me ‘Tu com esse corpo e és tão cobarde! Quando é que aceitas o Senhor?’ Eu olhei-o e disse no meu coração, ‘O que quer este velho?’ Mas o Senhor tocou no meu coração e no decorrer da semana eu perguntei à minha mãe: 'O que tenho de fazer para servir ao Senhor? ". Eu acabava de abandonar um grupo folclórico onde perdi dezassete anos. Aquilo não preenchia a minha vida. A minha mãe disse-me, ‘Pega no teu acordeão e apresenta-te ao pastor,’ e eu fi-lo. Peguei no meu acordeão e fui ao pastor, mas não foi ao pastor que fui; de facto, fui ao Senhor.

     Ele encheu a minha vida, encheu o meu coração, foi algo muito maravilhoso para mim. Eu estava carregado de sujeira, estava cansado da vida, cheio de coisas, e Deus libertou a minha vida. Encheu-me de alegria, de gozo, e tornou-me num corista para Ele.

     Hoje eu sou um corista para a honra e glória do Senhor. Eu toco o meu acordeão e violão para o Senhor, e agora canto o Amor dos amores. Ele também me fez ser um pregador, levo a Palavra onde quer que seja. Falo sempre às pessoas, aos meus colegas, em todos os lugares. Creio que cada pessoa que conhece o Senhor quer logo contar aos outros, dizendo-lhes para que façam o mesmo."

     Mundo Cristão: Uma coisa que atraiu grande atenção ao mundo foi que quando foram resgatados, a maioria dos seus colegas deu graças a Deus (alguns ajoelharam-se, apontaram para o céu, saíram com a Bíblia.) Assumimos que, antes do acidente, eles não tinham muita fé em Deus ... O que aconteceu? O que os fez ter tanta fé?

     José Henríquez: "O que aconteceu é que Deus nos colocou naquela situação e quando a gente viu que não tinha escapatória - olhamos para todas as possibilidades de conseguirmos uma rota de fuga e não havia. Deus fechou a porta de ambos os lados - não nos restou mais que não organizarmo-nos e vermos o que, humanamente, poderia ser feito.

     Quando veio a repartição de responsabilidades nesta organização, a maneira de fazer as coisas, eles sabiam que eu era Cristão e disseram-me: 'Você vai cuidar da oração e você vai levar-nos em oração."  Eu dei, 'Glória a Deus’ no meu coração porque era uma oportunidade de trabalhar para o Senhor, independentemente da situação em que estávamos.

     O Senhor quer que o homem se humilhe, quer que as pessoas O busquem em espírito e em verdade e ele diz que ama o que se humilha. Estas palavras vieram-me à mente e eu pude ver que o Senhor nos conduzia de tal modo que a nossa oração pôde ser eficaz – foi uma oração que convenceu Deus. Creio que o que Deus viu ali foi humilhação. Creio que não houve nenhum dos que estavam ali, na primeira oração, que não se humilhasse a Deus. Porque todos nós sabíamos a situação em que estávamos."

     Mundo cristão: Você acha que essa oração provocou uma transformação espiritual na vida dos seus companheiros?

     José Henríquez: "Claro. Apesar de nem todos terem sido transformados, pelo menos, não deixaram de dizer 'eu creio no Senhor.’ E eu creio que a Palavra é o que transforma o homem. Sabemos que a Palavra de Deus não é apenas papel e tinta, mas Espírito; é como uma espada de dois gumes.

     Lá dentro pregou-se a Palavra, cantou-se louvores a Deus; tínhamos uma espécie de reunião de oração - tínhamos ao meio-dia e, à tarde, às dezoito horas.

     Mundo cristão: Algum deles fez a oração da fé, aceitando o Senhor, entregando as suas vidas a Deus?

     José Henríquez: "Claro, no domingo, antes de sermos resgatados. Cerca de vinte disseram sim, crendo no Senhor.

     A Palavra diz que Deus faz a semente crescer. Pode-se plantar, outro regar, mas é Deus que dá o crescimento. Que o Senhor permita que nenhuma dessas pessoas pereça. Deus cuidará delas.

     Estou feliz de ter sido um instrumento nas mãos do Senhor, fazendo a Sua vontade, que eu acredito que é o que agrada a Deus."

     Mundo Cristão: Alguma vez pensou que iria morrer na mina?

     José Henríquez: "Sim, como homem, humanamente, esses pensamentos vêm. Mas os filhos de Deus têm um espírito diferente, o que nos enche de confiança. A Sua palavra diz: "Se morremos para Ele morremos, e se vivermos para Ele vivemos."

    
Mundo Cristão: Você planeia voltar ao trabalho da mineração? Porquê?

     José Henríquez: "Claro, humanamente eu não tenho outra maneira de viver; vou ter que continuar, porque sou de uma família de mineiros e esta é a minha profissão. Mas se o Senhor abrir uma outra forma, um outro meio de sobreviver, eu consideraria isso porque eu vi a minha família, a minha esposa, sofrer muito, e eu não quero ver isso de novo."

     Mundo Cristão: Você já se sentiu chamado por Deus para se tornar uma espécie de evangelista depois de tudo isso?

     José Henríquez: "Não, eu cumpri um papel - nada mais.

     Eu sei o sofrimento de um pastor. Eu vivi muitos anos vendo o meu avô a sofrer por levar a Palavra, o Evangelho, vivendo em situações precárias. Um homem que sofreu muito por levar o Evangelho a lugares inóspitos. Se me pergunta se quero ser pastor, eu digo que não, porque os verdadeiros pastores sofrem. Hoje vivemos em tempos de conforto e não como os pastores, que caminhavam dias para chegar a um lugar e levar a Palavra. Estou falar de homens realmente comprometidos com a obra do Senhor.
 
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