Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se trespassaram a si mesmos com muitas dores.
(I Timóteo 6:10)
Gostaria de falar sobre um dos temas mais falados em determinadas igrejas e por grande número de pastores. É um dos assuntos mais sensíveis e delicados de abordar, muito embora para muitos seja o assunto preferido.
O assunto é o dízimo.
A Bíblia é toda ela a verdade, mas ao estudá-la precisamos saber que a verdade que ela contém é tripla; verdade passada, verdade presente e verdade futura. Se soubermos distinguir a qual verdade se refere o contexto, teremos maior probabilidade de compreender correctamente a palavra de Deus.
Comecemos pelo significado da palavra. Dízimo significa décima parte. Ou seja, são 10 por cento retirado da totalidade, seja de dinheiro ou de uma outra coisa qualquer.
Acerca deste assunto gostaria de fazer algumas perguntas: Será o ensino do dízimo para os nossos dias? É correcto ensinar-se o dízimo? Quando é que a Bíblia começa a falar deste assunto? A que propósito e com que objectivo o dízimo foi requerido? Porque razões uns ensinam o dízimo e outros não?
Quem aceita que a Bíblia é a palavra de Deus, escrita e dada aos homens de diferentes épocas, sabe também que determinadas coisas que ela diz se referem a épocas específicas, pessoas específicas, povo específico, outras vezes a todos em geral.
É com base neste entendimento da palavra de Deus, que nós ensinamos que o dízimo não é um requisito para os nossos dias, muito menos para a Igreja como iremos demonstrar neste estudo.
Porque razão então, grande número de pessoas com responsabilidade dentro de muitas igrejas ensinam e impõe o dízimo?
Estes ensinadores podem ser divididos em duas categorias. Os que ensinam por ignorância, não sabendo dividir correctamente a palavra de Deus, que por isso na sua sinceridade acham que o dízimo continua actual e em vigor para os nossos dias. Outros, sendo isso em muitos casos bastante evidente, fazem-no por interesse e ganância, para viverem no luxo e opulência, à custa de explorarem de forma fraudulenta e vergonhosa as ovelhas de Cristo.
Quando a Bíblia se refere ao dízimo pela primeira vez?
A primeira vez que a Bíblia fala disto é em Génesis 14:20
Desde o verso 1 até ao 20 o texto relata acerca de 4 reis que invadiram Sodoma e Gomorra levando Lot cativo.
Então Abraão para libertar seu sobrinho Lot, perseguiu-os e venceu-os, tirando-lhes tudo que eles tinham saqueado de Sodoma e Gomorra. No regresso, Abraão encontrou-se com Melquisedeque que era sacerdote, oferecendo-lhe o dízimo do saque que tirou dos 4 reis.
Convém dizer que Abraão tomou esta decisão de dar o dízimo de livre e espontânea vontade. Em lado algum da Bíblia se diz que Abraão o fez por ser uma ordenança de Deus. Em segundo lugar, Abraão deu o dízimo do que não era seu.
Em terceiro, nunca lemos que Abraão tivesse dado o dízimo outras vezes durante a sua vida, quer do fosse seu ou não.
Quarto lugar, nunca lemos que seus descendentes como p.ex. Isaque e Jacó tenham tido esta prática de dar o dízimo até ao Êxodo do Egipto.
Por várias vezes Deus falou com Abraão, Isaque e Jacó e nunca lhes disse uma palavra sobre dízimo.
Em Gn. 28:20-22 vemos Jacó a fazer um voto ao Senhor, à semelhança de Abraão seu avô, ele decide que se Deus for com ele e o abençoar, lhe daria o dízimo.
Estas palavras de Jacó provam claramente que não existia nenhuma ordenança sobre o dízimo e que era um acto voluntário. Se existisse uma ordenança Jacó nada teria a prometer, somente teria de obedecer dando o dízimo, pois era seu dever. Ele nada teria a negociar com Deus, apenas teria de cumprir o que estava estabelecido.
É muito importante perceber e realçar isto, porque é nestes dois acontecimentos que muitos se agarram para dizer que o dízimo é para hoje, e que nada tem a ver com a Lei de Moisés, pois já existia antes.
Não é correcto dizer-se que o dízimo era uma ordenança de Deus, antes mesmo da Lei dada a Moisés, porque isso não está dito em lado nenhum das Escrituras.
Quando foi instituído o dízimo e para quem?
Levítico 27:30-34 Só 400 anos após Jacó ter descido ao Egipto com sua família ao encontro de José seu filho que era governador do Egipto, com a Lei dada a Moisés no monte Sinai é que nós vemos o dízimo a ser ordenado, passando a ser prática generalizada e obrigatória.
Convém que atentemos para um pormenor muito importante registado no verso 34. Diz aqui que o dízimo foi instituído para, “OS FILHOS DE ISRAEL” no monte Sinai.
1 – O Senhor deu esta ordenança aos filhos de Israel. 2 – Isto foi feito no Monte Sinai. Quer dizer que antes do Monte Sinai (da Lei) não existia ordenança do dízimo. Isto é mais que claro e evidente. O dízimo foi estabelecido pela Lei dada no Sinai e não antes.
Um dos textos preferidos e mais usados pelos defensores do dízimo para os nossos dias é o de Malaquias 3:8-10
A preferência por este texto é devido à linguagem do mesmo, ser muito forte e intimidatória para os que não dão o dízimo, o que causa nos ouvintes grande medo e receio, produzindo o efeito desejado por parte de quem prega o dízimo.
Este é um método falacioso do uso da palavra de Deus, usando textos que dizem respeito a uma época diferente daquela em que o dízimo estava em vigor. Se o dízimo foi estabelecido pela Lei, terminou com a abolição da Lei. Como todos sabemos, a Lei foi completamente abolida, não apenas em parte, mas completamente abolida no que diz respeito às ordenanças.
Basta estudar o contexto para facilmente se entender que mesmo nesta passagem de Malaquias, a quem é que dizia respeito o dízimo. Nunca se devem isolar passagens mas estudar todo o contexto. Vejamos; v.3 a passagem fala a respeito dos “filhos de Levi” v.4 de “Jerusalém e Judá” v.7 “dos pais (antepassados)” v.9 “da nação”.
No seguimento disto, no cap. 4:4 acrescenta para que se lembrem da Lei dada a Moisés no Sinai (que estabelecia o dízimo), para todo o Isarel.
A Palavra de Deus estudada assim é harmoniosa e não confunde. De contrário, torna-se terreno favorável aos enganadores e oportunistas. Fica claro com estas simples explicações que o dízimo é uma instituição do Velho Testamento e que diz respeito a Israel e a mais ninguém.
À semelhança de outras ordenanças, como a Circuncisão, a Páscoa, o Sábado, etc. que foram dadas a Israel e que não são ensinadas como sendo para a Igreja, esses ensinadores do dízimo deveriam ser coerentes e ensinar também a guardar o sábado, a celebrar a Páscoa, a circuncisão e outras coisas que a Lei ordenava, mas eles acham que somente o dízimo é para hoje, porque isso lhes convém e é muito cómodo, mas a palavra de Deus não deve ser ensinada segundo as nossas conveniências e interesses, mas correctamente e honestamente.
É fundamental para uma correcta compreensão da palavra de Deus, que estudemos antes de tudo a quem e a que época diz respeito o que estamos a ler e a estudar.
Se olharmos para o Novo Testamento (refiro-me a após a morte do Senhor Jesus, antes disso vigorava a Lei) e às instruções dadas à Igreja, nunca lemos nada acerca de dízimo. Assim como nada que diga respeito à prática da circuncisão, do sábado, das festas judaicas e outras, a não ser para dizer que nada disso diz respeito à Igreja. Da mesma forma nada poderia dizer sobre o dízimo, porque todas essas coisas diziam respeito à Lei e a Israel e não à Igreja.
Alguns dizem que o Senhor Jesus também ensinou o dízimo em Mateus 23:23. Mas quando e a quem é que Jesus disse estas coisas. Jesus falava segundo o que ordenava a Lei que vigorava, hoje não estamos mais sob a Lei.
Passagens referentes à abolição da Lei. Hb. 7:2,5/8:13/10:9 Cl. 2:14,20 IICor. 3:13,14
COMO DEVEMOS CONTRIBUIR HOJE?
QUAL O ENSINO BÍBLICO ACTUAL SOBRE CONTRIBUIR?
É muito vulgar nós ouvirmos pessoas defendendo seus pontos de vista, alegando que está escrito na Bíblia.Não basta dizer ou comprovar que está escrito, para criar ou sustentar uma doutrina ou um conceito. Como já foi dito, ao isolarmos um versículo ou uma passagem, sendo o que muitos fazem, até podemos afirmar que Deus não existe. O salmo 53:1 diz que não há Deus, só que o que lá se diz é que o tolo diz: não há Deus. Portanto, truncar passagens Bíblicas leva ao erro e falsificação da mesma.Um outro erro muito comum de como compreender mal a Bíblia é este. Ao falarmos de ensinos que não são para o nosso tempo, alguns se agarram à passagem de Hb. 13:8 em que se diz que Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente.
Eles esquecem que estão torcendo as Escrituras, pois não se podem citar passagens que nada tem de comum entre si para se defender uma posição doutrinária. Ou seja, a argumentação só é válida quando o assunto tratado na passagem é o mesmo. Não se pode defender o dom de línguas, de curas… com a passagem de Hb. 13:8, quando esta nem sequer fala destes assuntos.
Contribuir de acordo com o ensino para a Igreja.
1 - I Cor. 16:1,2 Com regularidade Alguns não têm por hábito contribuir. Não o fazem ou fazem-no esporadicamente. Talvez o façam muito raramente por descargo de consciência ou porque algo lhes correu bem nos negócios, tiveram um extra… isso deveria ser motivo não para se fazer uma oferta, mas para melhorar a oferta. Esta forma de contribuir não é segundo o ensino para a Igreja.
2 - II Cor. 8:1-5,7-9/9:6,7 Deve ser voluntária, Com alegria, Proporcional ao que se ganha. As nossas ofertas segundo o N.T. devem ser feitas não por imposição. Não existe quantia ou tabela pré-estabelecida, devendo ser feitas de acordo com a vontade e desejo de cada um, com alegria e prazer, Ou seja, deve-se dar como tendo isso como um privilégio e não uma carga de quem paga os impostos ao estado. Ao darmos é sinal de que temos para dar, só por si, isso deveria ser razão para sentir alegria. Deus não se alegra com as nossas ofertas se elas são feitas forçadamente, ou como quem dá uma esmola ao mendigo por sentimento de piedade. Deus não é um pedinte à espera da nossa esmola. Deus é Senhor de tudo. Seria uma ofensa para Deus se fizermos as nossas ofertas neste espírito de quem dá por dó ou por se sentir obrigado com medo que Deus nos castigue se não dermos. Ainda mais grave será quando tratamos Deus menos que um mendigo, dando uma oferta tão pequena que nem teríamos coragem de dar a um mendigo. Isso será então mesmo muito grave. 3 - I Cor. 16:1 Sem avareza. (conforme a prosperidade) Podemos até contribuir regularmente, voluntariamente e com alegria, mas com avareza. Isto é, podíamos dar muito mais, mas somos forretas e não damos na medida da nossa prosperidade. Como podemos querer que Deus nos abençoe materialmente sendo avarentos para com Deus. Ele conhece e sabe aquilo que damos e se damos generosamente ou não. 4 - II Cor. 9:6 “Quem semeia pouco, pouco ceifará”Embora não exista imposição acerca do que devemos dar, existe um principio que a própria natureza e a vida em geral nos ensina, que é o de que se queremos ceifar muito, precisamos semear muito, e geralmente sempre colhemos mais do que semeamos. Semeando pouco não é razoável que esperemos colher muito. É bem a propósito o adágio que diz: “mãos que não dais porque esperais?” Portanto, não se pode esperar que sendo avarentos, sejamos recompensados com generosidade. É na medida que damos que também recebemos. Não significa que isso aconteça literalmente neste mundo, mas com toda a certeza que um dia na eternidade receberemos o galardão completo. O Senhor Jesus um dia disse: “ajuntai tesouros no céu…” Mt. 6:20 Nossas ofertas podem ser consideradas como um depósito bancário a prazo, feito no banco de Deus, podendo nós ter a certeza de que um dia Ele nos vai devolver com juros muito acima do que o mundo oferece.
QUAL O LIMITE DAS NOSSAS OFERTAS?
Não é o dízimo, mas também não é contribuirmos dando uma moedinha das mais pequenas como quem dá uma esmola ao pedinte, podendo nós dar muito mais, pois que até em certas coisas desperdiçamos ou gastamos o dinheiro mal gasto, mas quando é para contribuir para a obra de Deus, achamos sempre que qualquer coisa basta. Conforme diz II Cor. 9:6,7 Devemos contribuir segundo propusemos no nosso coração. Ou seja, estando o Espírito Santo no nosso coração e deixando nós que Ele controle esta parte da nossa vida, será Ele a guiar-nos e a mostrar o que devemos fazer. O problema muitas vezes é que nós não damos permissão ao Espírito Santo para que Ele dirija por assim dizer, este departamento da nossa vida. Uma coisa é certa; no fundo, nossas ofertas não irão depender do que temos e podemos dar, mas essencialmente do quanto amarmos o Senhor. É o amor que nos vai mover a dar. Se amarmos pouco, pouco iremos dar. Se não amarmos nada, não daremos nada. Se amarmos muito, daremos muito.
Conclusão. É bom dar o dízimo, ninguém está proibido de o dar, ou até mais que o dízimo se isso for possível. Não porque isso seja obrigatório para hoje, mas porque entendemos que o devemos fazer e neste caso é diferente. Seja no Velho Testamento ou no Novo Testamento, o princípio de contribuir mantêm-se. Hoje não existe uma soma estipulada, devendo ser dada voluntariamente, conforme as possibilidades de cada um. Não impondo nem assustando as pessoas como muitos fazem, em que as pessoas por vezes mesmo tendo gastos imprevistos com medicamentos ou outras despesas, os seus líderes lhes impõe que dêem o dízimo do seu ordenado, quando por vezes isso não lhes é possível. Isto é cruel, desumano e anti-biblico, pois que a maioria depende de seu ordenado para comer e pagar suas despesas obrigatórias do dia-a-dia e quando surge uma doença, um acidente, algo que em casa se estragou… quando isto acontece não é possível às pessoas darem o que lhes é imposto. Que Deus nos ajude e mostre qual a sua vontade quanto a este assunto, para que vejamos se estamos a dar conforme a vontade de Deus, ou a ser avarentos.O Novo Testamento chama os crentes de mordomos e despenseiros de Deus. Como mordomos de Deus temos o dever de governar e gerir bem os bens que Ele nos confiou. Se não o fizermos de modo fiel, o Senhor diz na Sua palavra que nos vai pedir contas do que fizemos com o que Ele nos deu. Lucas 12 e 16 I Cor. 4:2 Peçamos ao Senhor sabedoria para que sejamos mordomos diligentes e fieis.